"eu não tenho escolha", lamenta rosângela.
tereza acaricia com o garfo o fricassê de frango, que ela preparou ao longo da tarde toda. um prato especial, para uma ocasião especial: jantar surpresa de meio de semana. tereza não sabia o motivo do convite, uma vez que foi rosângela quem marcou.
"ao menos o dinheiro é bom, quando tudo isso acabar podemos nos mudar de são paulo".
"e passar o resto da vida fugindo?".
"não é fugir, é recomeçar".
"por que não fugimos agora, então?".
"porque agora o cliente terá todos as razões para me denunciar e tornar tudo mais difícil, tereza". rosângela segura uma das mãos de sua noiva e prossegue: "eu preciso fazer só mais esse filme e depois nós nos mudamos".
"mudar para onde, rosângela?".
tereza desvia o olhar para o chão de taco, em busca de uma resposta convincente, para fazer o pé esquerdo de tereza parar de balançar. a solução poderia estar no cone sul.
"vamos para o uruguai".
"uruguai?".
"não tenho nenhum motivo para defender a favor e não tenho nenhum motivo contra. o que eu tenho é um pressentimento, um pressentimento bom, que será o lugar que nos dará condições para ser felizes". rosângela respira um pouco, para refletir a respeito do que acabou de dizer, concluindo: "felizes de uma forma diferente que são paulo me fez".
minutos de silêncio entre as duas prosseguem para fazer o plano decantar. rosângela enfim termina o seu prato.
"estava muito bom o fricassê".
tereza toma um gole do copo com guaraná e, depois, faz um aceno positivo de cabeça.
"são paulo te fez feliz?", pergunta tereza.
"sim".
"vamos para o uruguai. quando tudo isso terminar, nós vamos para o uruguai", aprova tereza.